Gosta de ouvir “deflação” nas notícias econômicas, mas ainda não entende bem? Este sistema econômico que está a encolher está realmente a afetar indústrias e empregos, e a deflação não é apenas um número numa equação matemática, mas um problema económico real que impacta a nossa vida.
Deflação - O que exatamente é
Imagine isto: hoje tens 100 euros. Quando ocorre deflação, esses 100 euros têm mais poder de compra, porque os preços dos bens caem em todo o mercado.
Deflação é uma situação em que os níveis de preços de bens e serviços ajustam-se a uma diminuição contínua. É o oposto da inflação. Se a inflação faz o dinheiro perder valor, as pessoas precisam de gastar mais para comprar o mesmo, e a deflação é o contrário: o dinheiro que possuímos aumenta o seu poder de compra e podemos comprar bens a preços mais baixos do que antes.
O ponto importante é que a queda de preços não significa que todos os bens estejam a baixar, mas sim que o preço médio de bens e serviços, medido pelo índice de preços ao consumidor (CPI), está a diminuir.
De onde vem a deflação - fatores principais
A ocorrência de deflação não é por acaso. Vários fatores combinados levam a que a economia entre neste estado:
Demanda - redução do consumo
Quando as pessoas começam a gastar menos, sob pressão de dívidas, rendimentos a diminuir ou medo de perder o emprego, elas reduzem o consumo. Os empresários, ao verem menos clientes, começam a baixar preços para atrair compradores de novo.
Oferta - aumento de bens
Quando a produção aumenta, mas a procura não acompanha, os preços podem naturalmente cair. Isto pode acontecer devido a avanços tecnológicos que reduzem os custos de produção e aumentam a oferta.
Problemas de política
Taxas de juro elevadas demais, que dificultam os bancos concederem empréstimos
Altos impostos, deixando menos dinheiro disponível para os cidadãos
Quantidade de dinheiro em circulação insuficiente para a economia
Fatores externos
Guerras comerciais, crises pandémicas, bolhas de ativos - tudo isto cria incerteza e pode levar à contração económica.
Recessão e deflação - uma relação misteriosa
Por que é que a deflação costuma vir acompanhada de recessão? A resposta está neste ciclo vicioso:
PIB negativo por vários trimestres → redução de negócios → menos empregos → desemprego e menor consumo → diminuição da procura por bens → redução de preços pelos empresários → necessidade de cortar custos ainda mais → despedimentos adicionais → e assim por diante.
Este ciclo é conhecido como “espiral deflacionária” - uma descida sem fim na economia, difícil de reverter uma vez iniciada.
Vantagens vs desvantagens da deflação
Quem se beneficia nesta situação:
Funcionários com salário fixo - o poder de compra do seu salário aumenta, às vezes os salários não baixam, mas os preços caem, o que equivale a um aumento salarial
Credores - quem empresta dinheiro, pois com a valorização do dinheiro, o valor a receber aumenta
Detentores de dinheiro em espécie - o poder de compra do dinheiro que guardam aumenta
Quem sofre:
Empresários - precisam de baixar preços para vender, as margens encolhem ou até podem ter prejuízo
Acionistas - investidores e devedores querem taxas de retorno mais altas para compensar riscos; se os lucros das empresas caem, as ações também baixam
Devedores - tomaram empréstimos durante a inflação, mas terão de pagar com dinheiro que vale mais, aumentando a carga da dívida, mesmo que o valor nominal seja o mesmo
Exemplo de uma crise global - A Grande Depressão
“A Grande Depressão” entre 1929-1932 é o exemplo mais severo de deflação que o mundo já enfrentou.
Após a queda da bolsa de Nova York (Terça Negra - 4 de setembro de 1929):
O PIB mundial caiu mais de 15%
A taxa de desemprego nos EUA atingiu 23%, em alguns países 33%
Os preços agrícolas caíram mais de 60%, deixando os agricultores em dificuldades
O comércio internacional reduziu-se mais de 50%
Os efeitos prolongaram-se até à Segunda Guerra Mundial
Por isso, governos e bancos centrais ficam atentos ao perceber sinais de deflação, pois não querem que a economia entre numa crise tão profunda novamente.
Portugal deve temer ou não - sinais de alerta
De modo geral, Portugal atualmente ainda não entrou em deflação segundo a definição, mesmo que haja quedas moderadas na inflação.
Os indicadores que apontam para uma deflação real incluem quatro critérios simultâneos:
Queda contínua dos preços de bens e serviços por vários meses
Queda de preços espalhada por quase todos os tipos de bens
Expectativas de inflação abaixo da meta
Economia e emprego a desacelerar por um período prolongado
Dados recentes indicam que Portugal:
70% dos preços permanecem estáveis ou aumentam, apenas alguns caem
A previsão de inflação está em 1,8%, dentro da meta de 1-3%
Estima-se que a economia cresça de -8,1% em 2020 para +5,0% em 2021
Mas isso não significa que se deva deixar de monitorar, pois os riscos estão sempre presentes.
Investir em tempos de deflação - Parece uma contradição, mas há oportunidades
A maioria dos investidores evita investir durante deflação, por medo de obter lucros baixos. Mas, na verdade, isso pode ser uma oportunidade para quem tem coragem de aproveitar o mercado.
Títulos de dívida - Uma ajuda
Títulos de dívida são aliados nesta fase, porque:
Os bancos centrais costumam baixar as taxas de juro, o que aumenta o valor dos títulos existentes
Recebem juros constantes, quase de forma gratuita
Escolher títulos de alta credibilidade é fundamental, para evitar que os credores fechem as portas.
Ações - Focar em bens de consumo diário
Durante uma crise, muitas ações caem, mas as de empresas que vendem bens essenciais, como alimentos, bebidas, medicamentos, permanecem fortes. Empresas com receitas estáveis tornam-se boas opções de investimento.
Ouro - Proteção a longo prazo
O preço do ouro costuma cair durante deflação, mas é uma oportunidade de acumular ouro a preços baixos. O ouro é um bom diversificador de risco, pois tem valor intrínseco.
Imóveis - Risco, mas com potencial
Neste momento, os preços de imóveis podem cair. Alguns investidores são obrigados a vender para obter liquidez, permitindo a quem tem capital escolher boas localizações a preços acessíveis. Contudo, investir em imóveis requer tempo e capital, e deve ser feito com cuidado.
Dicas de investimento em tempos de queda do mercado
Mantenha uma reserva de dinheiro em espécie, não venda tudo - Guarde dinheiro para comprar quando os preços estiverem realmente baixos.
Invista de forma parcelada (Dollar-cost averaging) - Investir quantias iguais ao longo do tempo, para reduzir riscos de comprar no momento errado.
Analise os resultados das empresas, não apenas o preço das ações - Durante uma crise, empresas sólidas com receitas constantes tendem a recuperar-se mais rápido.
Defina limites de perda - Saiba quando parar de perder dinheiro, para não deixar que a esperança ou o medo tomem decisões erradas.
Consulte especialistas - Para evitar decisões baseadas em informações incompletas ou emocionais.
Conclusão - O que realmente importa
A deflação é uma realidade que não deve ser ignorada, mas também não precisa gerar pânico. O mais importante é:
Entender o que é a deflação e como ela afeta a economia
Planejar as finanças de forma adequada à situação
Manter-se informado continuamente, acompanhando o índice CPI, o mercado de trabalho, o PIB, entre outros indicadores econômicos
Se a deflação chegar ou não, estar preparado para uma economia incerta é a estratégia mais inteligente.
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O que é o fenômeno da deflação e como investir quando os preços caem
Deflação não é um assunto distante…
Gosta de ouvir “deflação” nas notícias econômicas, mas ainda não entende bem? Este sistema econômico que está a encolher está realmente a afetar indústrias e empregos, e a deflação não é apenas um número numa equação matemática, mas um problema económico real que impacta a nossa vida.
Deflação - O que exatamente é
Imagine isto: hoje tens 100 euros. Quando ocorre deflação, esses 100 euros têm mais poder de compra, porque os preços dos bens caem em todo o mercado.
Deflação é uma situação em que os níveis de preços de bens e serviços ajustam-se a uma diminuição contínua. É o oposto da inflação. Se a inflação faz o dinheiro perder valor, as pessoas precisam de gastar mais para comprar o mesmo, e a deflação é o contrário: o dinheiro que possuímos aumenta o seu poder de compra e podemos comprar bens a preços mais baixos do que antes.
O ponto importante é que a queda de preços não significa que todos os bens estejam a baixar, mas sim que o preço médio de bens e serviços, medido pelo índice de preços ao consumidor (CPI), está a diminuir.
De onde vem a deflação - fatores principais
A ocorrência de deflação não é por acaso. Vários fatores combinados levam a que a economia entre neste estado:
Demanda - redução do consumo
Quando as pessoas começam a gastar menos, sob pressão de dívidas, rendimentos a diminuir ou medo de perder o emprego, elas reduzem o consumo. Os empresários, ao verem menos clientes, começam a baixar preços para atrair compradores de novo.
Oferta - aumento de bens
Quando a produção aumenta, mas a procura não acompanha, os preços podem naturalmente cair. Isto pode acontecer devido a avanços tecnológicos que reduzem os custos de produção e aumentam a oferta.
Problemas de política
Fatores externos
Guerras comerciais, crises pandémicas, bolhas de ativos - tudo isto cria incerteza e pode levar à contração económica.
Recessão e deflação - uma relação misteriosa
Por que é que a deflação costuma vir acompanhada de recessão? A resposta está neste ciclo vicioso:
PIB negativo por vários trimestres → redução de negócios → menos empregos → desemprego e menor consumo → diminuição da procura por bens → redução de preços pelos empresários → necessidade de cortar custos ainda mais → despedimentos adicionais → e assim por diante.
Este ciclo é conhecido como “espiral deflacionária” - uma descida sem fim na economia, difícil de reverter uma vez iniciada.
Vantagens vs desvantagens da deflação
Quem se beneficia nesta situação:
Quem sofre:
Exemplo de uma crise global - A Grande Depressão
“A Grande Depressão” entre 1929-1932 é o exemplo mais severo de deflação que o mundo já enfrentou.
Após a queda da bolsa de Nova York (Terça Negra - 4 de setembro de 1929):
Por isso, governos e bancos centrais ficam atentos ao perceber sinais de deflação, pois não querem que a economia entre numa crise tão profunda novamente.
Portugal deve temer ou não - sinais de alerta
De modo geral, Portugal atualmente ainda não entrou em deflação segundo a definição, mesmo que haja quedas moderadas na inflação.
Os indicadores que apontam para uma deflação real incluem quatro critérios simultâneos:
Dados recentes indicam que Portugal:
Mas isso não significa que se deva deixar de monitorar, pois os riscos estão sempre presentes.
Investir em tempos de deflação - Parece uma contradição, mas há oportunidades
A maioria dos investidores evita investir durante deflação, por medo de obter lucros baixos. Mas, na verdade, isso pode ser uma oportunidade para quem tem coragem de aproveitar o mercado.
Títulos de dívida - Uma ajuda
Títulos de dívida são aliados nesta fase, porque:
Escolher títulos de alta credibilidade é fundamental, para evitar que os credores fechem as portas.
Ações - Focar em bens de consumo diário
Durante uma crise, muitas ações caem, mas as de empresas que vendem bens essenciais, como alimentos, bebidas, medicamentos, permanecem fortes. Empresas com receitas estáveis tornam-se boas opções de investimento.
Ouro - Proteção a longo prazo
O preço do ouro costuma cair durante deflação, mas é uma oportunidade de acumular ouro a preços baixos. O ouro é um bom diversificador de risco, pois tem valor intrínseco.
Imóveis - Risco, mas com potencial
Neste momento, os preços de imóveis podem cair. Alguns investidores são obrigados a vender para obter liquidez, permitindo a quem tem capital escolher boas localizações a preços acessíveis. Contudo, investir em imóveis requer tempo e capital, e deve ser feito com cuidado.
Dicas de investimento em tempos de queda do mercado
Mantenha uma reserva de dinheiro em espécie, não venda tudo - Guarde dinheiro para comprar quando os preços estiverem realmente baixos.
Invista de forma parcelada (Dollar-cost averaging) - Investir quantias iguais ao longo do tempo, para reduzir riscos de comprar no momento errado.
Analise os resultados das empresas, não apenas o preço das ações - Durante uma crise, empresas sólidas com receitas constantes tendem a recuperar-se mais rápido.
Defina limites de perda - Saiba quando parar de perder dinheiro, para não deixar que a esperança ou o medo tomem decisões erradas.
Consulte especialistas - Para evitar decisões baseadas em informações incompletas ou emocionais.
Conclusão - O que realmente importa
A deflação é uma realidade que não deve ser ignorada, mas também não precisa gerar pânico. O mais importante é:
Se a deflação chegar ou não, estar preparado para uma economia incerta é a estratégia mais inteligente.